Arquivo: Edição de 15-09-2006
SECÇÃO: Região |
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Na Comemoração da Batalha de Aljubarrota Fez quinhentos anos em Abril deste ano que nasceu no castelo de Xavier, junto a Pamplona, aquele que haveria de ser o grande missionário do Oriente. Altamente qualificado nas ciências e nas artes, para se afirmar como professor na Sorbona, conforme seu desejo, não resistiu todavia ao chamamento de Deus, através do seu compatriota, doze anos mais velho, Santo Inácio de Loiola. Estudou teologia, fez os votos evangélicos, trabalhou para a fundação da Companhia de Jesus e, em 1540, a pedido de D. João III, por meio do seu embaixador em Roma, veio para Portugal com outro companheiro, partindo ainda nesse mesmo ano para a Índia. Onze anos apenas bastaram para que a sua acção apóstolica se tornasse comparável à de São Paulo na difusão do evangelho. A pé ou de barco percorreu duas vezes e meia o perímetro da terra. De Goa, que justamente haveria de chamar-se Roma do Oriente, ele espalhou a semente do evangelho em muitíssimas paragens da Índia, fundando igrejas e comunidades; penetrou na China, onde também fundou algumas igrejas e entrou no Japão com o propósito inovador de estabelecer diálogo com as populações, aproveitando o que de positivo o budismo apresentava. A sua missão, porém, terminou em 3 de Dezembro de 1552, com apenas 46 anos de idade na ilha de Sanchoão. S. Francisco Xavier é, certamente, um lumiar nos anais da expansão marítima dos portugueses. Enquanto, na Europa, tantos cristãos vacilavam e caíam na heresia, uma pléiade numerosa de missionários ganhava para a Fé uma multidão de fiéis e centenas de mártires para a Igreja. A segunda memória prende-se com a bênção de uma simples bandeira, réplica daquela que, em 5 de Agosto de 1956, foi solenemente benzida nesta Colegiada pelo Arcebispo Primaz de Braga, D. António Bento Martins Júnior, para, de imediato, seguir para a Índia. Naquela data de 5 de Agosto de 1956, o País inteiro estava sintonizado com a cerimónia que se desenrolava em Guimarães. É que as relações entre Portugal e a União Indiana estavam num clima de tensão tal que se temia uma alteração radical na presença portuguesa na Índia, o que, aliás, bem depresssa veio a acontecer. Mas ficou um exemplo grandioso de querer e de fé em que Guimarães tomou a iniciativa, através do Município que fez a oferta da bandeira. Acontecesse o que acontecesse, era um património secular em causa que teria se ser tutelado por um símbolo que resumia a vocação de Portugal, com a imagem da Senhora da Oliveira e a cruz da Fundação. A Vigília da assunção da Sempre Virgem Maria, há mais de seis séculos vivida pelos vimaranenses, também com fervor patriótico, ficou este ano assinalada pela bênção da nova bandeira. Foi na igreja de São Miguel do Castelo, no final da procissão de velas com o andor da Padroeira. Tudo foi preparado pela Irmandade de Nossa Senhora da Oliveira para que fosse uma cerimónia verdadeiramente condigna: Mons. José Maria recordou as horas difíceis e a angústia que afectavam milhares de famílias portuguesas e o próprio brio nacional em defender as suas possessões na Índia; a bandeira, disse, foi refúgio e amparo iminente. A nova bandeira, feita em conformidade com a informação fotográfica e testemunhos vivos que foi possível obter, pretende ser para nós um símbolo com o mesmo significado: defesa e irradiação dos dois grandes amores que espelham a alma genuinamente portuguesa, amor a Deus e à Pátria. Afinal o mesmo espírito de Aljubarrota. O Conquistador na sua edição de 9 de Agosto de 1956, fez ampla reportagem da bênção da original de que deixámos aqui um pequeno excerto: Já a imprensa diária relatou, e bem, tudo o que se passou e a rádio levou aos confins do mundo a Festa Nacional que teve lugar no passado dia 5 no Solar da Padroeira, nesta cidade-mãe do portuguesismo que se vive quente em toda a parte onde um dia a Bandeira das Quinas marcou a presença de Portugal e a Cruz de Cristo signou para a imortalidade a acção civilizadora dum povo missionário. Quando Guimarães fala, ia dizer o ilustre ministro da Defesa, é a voz da Pátria que retine. E assim foi, de facto, mais uma vez. Guimarães falou, e o acto que à primeira vista parecia insignificante, tornou-se em “presença” nacional, como em horas graves da história, em que todos acorrem em defesa dos direitos sagrados da Pátria. E que, apesar de todas as defecções, sempre inevitáveis, o sangue dos vimaranenses autênticos conserva o mesmo valor dos que arrancaram o grito de indepêndencia em S. Mamede, e a alma deste povo não perdeu ainda a certeza da promessa de Ourique. Por isso, em manifestações de patriotismo e crença, Guimarães é insuperável. Basta que os condutores do povo sintam e vivam esta realidade e por ela orientem todos os actos governativos. E Guimarães não falha. Será invencível. Isto queremos frisar para dar o merecido louvor aos pioneiros desta hora alta em que vivemos e garantir-lhes que a vitória será certa desde que compreendam as virtudes cívicas e morais deste povo incomparável que apenas carece de quem o saiba orientar nessas virtudes e evitar os desvios próprios da inconstância dos homens. A Câmara da presidência do Ex.mo Snr. Dr. José Maria Pereira de Castro Ferreira, a acção persistente, calma e clarividente do deputado Snr. capitão Magalhães Couto e o sonho de grandeza em que vive o ilustre vimaranense Eng.° Duarte do Amaral, ficarão na história do ressurgimento de Guimarães como marcos miliários dum patriotismo sincero e apaixonado que livrou a nossa terra do marasmo em que viveu durante tanto tempo. Saibamos todos compreender o seu trabalho e o carinho do governo da Nação para com esta terra, e seremos dignos dela e da hora que vivemos. |