Arquivo: Edição de 14-07-2006
SECÇÃO: Informação Religiosa |
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5.º Centenário do nascimento de S. Francisco Xavier A moderna missionação, tal qual a concebe a Igreja nos seus documentos mais recentes, comporta diversos elementos: o testemunho de vida dos missionários; o diálogo amigo; a presença da caridade; o anúncio explícito de Cristo; a conversão e a iniciação cristã. Todos estes elementos devem ser cultivados em ambiente aberto de inculturação (enraizamento da mensagem evangélica e da celebração da fé, nas diversas culturas que acederam à fé católica, numa profunda abertura à sensibilidade e à linguagem próprias dessa cultura); em ambiente de ecumenismo (movimento relativo à unidade na fé); e, finalmente, num diálogo contínuo (iniciativas conjuntas, oração particular e oração em comum, troca de ideias, etc.). O objectivo fundamental é chegar-se à constituição de Igrejas Particulares (dioceses ou não), dotadas de clero próprio e de estruturas pastorais que assegurem a vida normal e o crescimento das comunidades de fiéis que as integram. São Francisco Xavier mostra-se admirável nesta modernidade, sobretudo após a sua grande e dura experiência no Japão. Até aí, nomeadamente no início da sua pregação na Índia, mostrou-se ainda relativamente fechado e sem a abertura com que o Espírito Santo o foi favorecendo. Para ele, a linguagem é ponte de diálogo. Por isso, se esforçava por aprender de todas as línguas, pelo menos o suficiente para fazer o catecismo e para pregar. Mas nunca o fez de forma académica – salvo o latim que aprendeu na Sorbona. Queria a língua portuguesa como “ponte”, na Índia e no Extremo Oriente; mas no Japão, queria a língua japonesa… Na compreensão da cultura teve um grande caminho a percorrer. primeiro, na Índia, diz às crianças para lhe trazerem os ídolos das suas casas, que ele depois lhes manda destruir… Mais tarde, no Japão, vai perceber definitivamente que o melhor é dialogar e aproveitar o positivo que o budismo apresenta, como ponte de ligação… O absoluto da vontade de Deus Só se compreende Xavier quando se desvenda o seu caminho interior, desde o “Ad Maiorem Dei Gloriam” ao “Magis”, do conhecimento da Vontade de Deus até à Urgência da Evangelização, hit et nunc (aqui e agora), que fizeram do estudante atento e reflexivo, o apóstolo infatigável e insaciável. A partida da Europa, obedecendo a uma ordem dada, fá-lo partir de Roma – em menos de 24 horas! Para Francisco, a Vontade de Deus tem uma força absoluta, irresistível: é a explicação prática do “Ad Maiorem Dei Gloriam” (AMDG), simplificado em “mais…mais!”: Sofrer, Senhor? – Mais!… Ficou famosa, como exemplo da sua “Urgência da Evangelização”, a Carta de Cochim, aos universitários de Paris: “Muitas vezes me vêm pensamentos de ir às escolas desses lugares, gritando, como quem perdeu o juízo, e principalmente à Universidade de Paris, dizendo na Sorbona, aos que têm mais letras que vontade para dispor-se a frutificar com elas, quantas almas deixam de ir à glória e vão ao inferno por negligência deles…”. Infatigável, insaciável, sempre em ascensão, levado pela exigência da sua motivação missionária: de Goa para Malaca; de Malaca para as Molucas; das Molucas para o Japão; e do Japão para a China… Exemplo de pioneiro Com Xavier, abriu-se uma nova época na evangelização do Oriente. Como pioneiro, lançou as bases de uma organização evangelizadora, de tipo centralizado, que se manteve durante séculos, desde o Cabo da Boa Esperança até ao Extremo Oriente. A ele se devem as primeiras iniciativas de liturgia inculturada na Índia e no Japão e a formação de catequistas e do clero local, com uma dedicação incomparável às populações evangelizadas, de tal modo as cativando que elas nunca mais esqueceram a sua presença. |