Arquivo: Edição de 11-11-2005
SECÇÃO: Informação Religiosa |
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Vinda a Portugal das relíquias de Santa Teresa do Menino Jesus 2. Evangelizar a partir do amor Da atracção do amor de Deus contemplado em Jesus, do mergulhar no oceano infinito do seu amor, resulta, na espiritualidade de Teresa do Menino Jesus, a irradiação transparente, a necessidade interior de corrermos ligeiros, abrasados pelo Amor. Da abertura radical a Deus partiu a largueza de horizontes apostólicos da Igreja, atenta a pessoas sem esperança e sem fé. Teresa de Lisieux, proclamada padroeira das missões em 1927, interpela a Igreja para uma evangelização que parta do amor, que se desgaste no anúncio do Amor misericordioso de Deus, em abertura total à confiança nele e pelo método de ardente comunhão com os não crentes. A forma como Santa Teresa é padroeira das missões ajuda-nos a compreender o sentido profundo da obra missionária que não é pura persuasão, mas experiência jorrante do coração da Igreja que ama. Teresa do Menino Jesus captou que os apóstolos não proclamariam o Evangelho, que os mártires não derramariam o seu sangue se este coração não ardesse. Bastou compreender que o amor é tudo, que atravessa o tempo e os espaços. Percebeu como na clausura de uma pequena cidade se pode estar presente por todo o lado. Porque ao amar com Cristo, ela estava no coração da Igreja. Na tarefa missionária, os temores são vencidos se “navegarmos nas ondas da confiança e do amor”. Se partirmos do amor não apenas avançaremos, mas antes voaremos. A liberdade do anúncio, sem perturbação, é voo destemido dos que se sabem amados e se lançam confiantes nas vias altas de serem mensageiros do Reino. Se Santa Teresa sonhou “abrasar, abraçar e levantar apostólica e missionariamente o mundo”, se tinha o desejo forte e largo de ser missionária “desde a criação do mundo até à consumação dos séculos”, era graças à contemplação do Deus vivo, em Jesus. 3. Beleza da santidade Contactar com os sinais de uma vida como a de Teresa do Menino Jesus é interpelação para a santidade. Uma santidade que não nos afaste da vida concreta, mas encontre “pequenas vias” de abandono confiante à acção de Deus em nós. A interpelação contemplativa da Carmelita reforça a nossa decisão de encontrar uma arte da oração na pedagogia da santidade, necessária para o novo milénio, como pediu João Paulo II. O diálogo de amor filial com Deus Pai é a forma de crescimento orante, assim descrito por Teresa: “um impulso do coração, um simples olhar lançado para o céu, um grito de gratidão e de amor, tanto no meio da tribulação como no meio da alegria”. Será este compromisso orante que abrasará como fogo de amor os santos, os missionários, os doutores da Igreja e que levantará a mundo. Agora, do céu, em comunhão de santos, partilha do trabalho permanente do Pai. É um sinal para nós neste início de milénio, que nos exige a irradiante beleza da santidade, verdadeiro e novo impulso para a missão. Conclusão A visita das relíquias deverá constituir momento para revigorar o sentimento religioso cristão, através da inserção da visita em actos litúrgicos próprios, adaptados a valorizar dimensões específicas do carisma teresiano, como meio de prolongar a vida litúrgica da Igreja, ao proporcionar alimento de uma piedade centralizada na vida sacramental. Convidamos todos os cristãos a acolher este dom, estas “pétalas de uma rosa desfolhada” como vestígios luminosos de uma vida atraída totalmente por Deus, encantadora pela beleza da sua interioridade e atravessada pelo amor misericordioso de Deus. Vivendo e morrendo de Amor, qual coração da sua vocação e missão na Igreja, impelirá pela visita, bem preparada em todas as dioceses, para que as comunidades cristãs se lancem a “fazer amar o Amor, o Amor misericordioso”, no coração da não crença, na expressão de Pio XI. Deus misericordioso e compassivo, que através da vossa serva Teresa de Lisieux nos oferecestes um exemplo vivo de abandono à vossa vontade e de total disponibilidade para dar transparência ao vosso plano de salvação, permiti a cada um de nós dar maior lugar à dimensão orante da vida cristã, suscitai nos corações dos jovens desejo de optar pela vida contemplativa e fazei crescer a nossa consciência missionária, neste início do novo milénio. Fátima, 23 de Junho de 2005 |