Arquivo: Edição de 18-12-2015
SECÇÃO: Generalidades |
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O PRESÉPIO Curiosamente, não havia para o meu Natal um lugar, por pequeno que fosse, para o Pai Natal! A razão era só uma: o dia de Natal era o dia do Nascimento de Jesus Cristo, nosso Salvador. Por isso o festejávamos. Em nossa casa poderíamos talvez ignorar os pormenores do Antigo e do Novo Testamento, mas ninguém ignorava a história do Menino Jesus, de Deus feito homem para nos salvar. No que toca à nossa casa, a história do nascimento de Jesus estava profundamente enraizada em todos os que nela viviam: a minha madrinha, entrevada, ocupava o seu tempo ensinando-me a ler quando eu não passava dos quatro anos de idade e comprazia-se a ouvir-me ler os livros da doutrina cristã, a minha tia-avó levava-me pela mão à igreja para apreciar as figuras do presépio que se dispunham debaixo do púlpito da igreja das Dominicas. Sobre o musgo do presépio dispunham-se as prendas oferecidas ao Menino-Jesus que, depois do dia de Reis, seriam leiloadas no fim da Missa. Mas, para nós, os miúdos da casa, o importante relacionava-se com a confeção do presépio: procurava-se um arbusto de médio porte e boa copa, subiamos à Penha em busca de musgo, nas serrações à procura de serrim para desenhar os caminhos da montanha e, só no fim, colocávamos as figuras e as luzes. A partir do dia de Natal, as nossas rezas diárias faziam-se ao pé do presépio. As tias-avós, mais idosas, envoltas nos seus xailes, aquecidas com escalfetas, aconchegavam-se à manjedoura; a filharada, mais ruidosa, deliciava-se com as luzes, as cores e as figuras. Para eles, importante era o dia de Natal, quando as prendas do Menino Jesus seriam colocadas nas meias penduradas na chaminé. Prendas de pobres: uma camisola de lã, uns chocolates baratos, um ou dois rebuçados de licor e um brinquedo de pouco valor que esquecíamos uns dias depois. A verdade é que ficavam sempre na nossa memória as vivências vividas na época natalícia. Hoje, infelizmente, esta época é marcada pela figura e pala música importada do Pai Natal. Seria bom retomar as antigas tradições e, porque se aproxima a época em que se costuma “cantar os Reis”, seria interessante relembrar as modas outrora usadas nessa época. Que assim seja! Fernando José Teixeira 15 de Dezembro de 2016 |