Arquivo: Edição de 16-03-2012
SECÇÃO: Informação Religiosa |
|
Homenagem a «um senhor» Outros, com mais autoridade, podem referir-se à vida episcopal de D. Eurico Dias Nogueira como "um verdadeiro serviço de amor". Eu dou, apenas, o meu testemunho pessoal sobre quem foi, indubitavelmente, "pai, irmão e amigo". Começo por uma declaração de interesses: vivi os momentos mais determinantes dos meus quase 38 anos de sacerdócio sob a orientação de D. Eurico Dias Nogueira. Dele recebi as principais missões e as orientações e conselhos para as levar a cabo. Com ele partilhei alegrias e dúvidas, em diálogos plurais, sempre tão exigentes como compreensivos. Posso, pois, dizer que o considero marcante na minha vida e lhe dedico uma filial estima. Entendo, no entanto, que tal não me retira a objetividade no que poderia afirmar das suas lições de vida. Porque o espaço me condiciona, sublinho o ensinamento que, paradoxalmente, mais me marcou: o modo como tem vivido após deixar o paço e o governo ativo da arquidiocese. Realmente, poderia D. Eurico Dias Nogueira ter-se pura e simplesmente retirado, para um merecido repouso no conforto da família e dos muitos amigos. Ou poderia ter-se dedicado a uma espécie de vida de comentador eclesial, nas fronteiras entre um hipócrita desprendimento e aquilo a que a minha veia irónica chama a magistratura da intromissão... Mas não. O senhor D. Eurico entregou-se, generosa e discretamente, às tarefas que lhe foram solicitadas na vida diocesana, com a humildade de quem põe à disposição de outrem as suas muitas competências. Com uma serenidade exemplar e uma modelar silêncio. Sem comentários, juízos ou comparações, provocados ou consentidos. O homem da escrita fácil e cuidada; das homilias estendidas no papel e distribuídas por pontos, numa espiral do pensamento; o homem do pormenor anotado numa agenda minúscula e da voz que precisava de aquecer para se erguer, soube sentar-se num escritório humilde e dele fazer a sua cátedra. Tem um mês a nossa última conversa. Foi um percurso de memórias que ouvi desfilar frescas e desprendidas; embrulhadas na paulina disponibilidade de quem sabe ter combatido o bom combate e olha para além do tempo. Em ambiente de Quaresma, esta homenagem pode ser um pretexto de meditação acerca dos nossos modos de ser e de estar. Tendo como referência este bispo a quem um amigo comum recentemente se referia assim:" D. Eurico é um senhor!" Esta é, por isso, a homenagem a um senhor. Padre João Aguiar Campos (A.Ecclesia) |