Arquivo: Edição de 16-03-2012
SECÇÃO: Informação Religiosa |
|
Guimarães 2012: Desafios e oportunidades para a Igreja Ora, se o Ocidente está em crise e se, em parte, conhecemos a sua causa, podemos apontar-lhe o processo de cura, que passará, a meu ver, pela adesão livre às propostas de Cristo, que se revelou um Deus próximo das nossas vulnerabilidades. O problema é que, em muitas circunstâncias, é inconveniente, ou pouco aconselhável, fazer-se uma qualquer referência a Deus. Sabemos que a este respeito existe um falso argumento que confunde o secularismo com a imparcialidade ou neutralidade. Por que é que a exclusão da referência a Deus, à religião ou à Igreja é mais neutral do que a sua inclusão? Deixando de lado toda a polémica subjacente a esta questão, interessa-nos aqui apresentar a Igreja não exclusivamente como comunidade crente, mas como comunidade que oferece uma tradução contemporânea da mensagem evangélica. E neste contexto, encontramos a Igreja a dialogar com a CEC, propondo iniciativas como o roteiro religioso, aonde se disponibiliza material que auxilia a interpretar a arte religiosa, ou o Átrio dos Gentios, que se propõe ser um espaço de diálogo entre crentes e não crentes. A Igreja, neste diálogo aberto e concreto com a CEC, tem a oportunidade de lançar sementes do Reino, rasgar horizontes de felicidade, comunicar sinais de esperança, enfim, ser uma realidade concreta no espaço das relações humanas. A Igreja, tal como outrora - porque trás em si inscrita o diálogo das civilizações -, tem que continuar a ser, também hoje, fator primário de unidade entre povos e culturas. Daí que a CEC não é estranha à Igreja, bem pelo contrário, já que, tanto a Igreja como CEC, são genética e culturalmente universais. Seria desejável que a CEC, na programação que tem pela frente, não se fechasse - e não o tem feito -, em conteúdos de superficialidade, de índole niilista, mas que fizesse propostas culturais verdadeiramente humanas, esperançadas, que fale da frescura da vida, de forma a que não construa uma imagem de uma sociedade, neste caso concreto a partir de Guimarães, enferma, sem memória, perdida no tempo ou sem sentido. Seria bom que, finda a programação da CEC, se continuasse a abrir horizontes, se encontrassem pessoas motivadas para a cultura, se entendesse os tambores, pianos, trompetes, fagotes e violinos, se prolongasse as tertúlias à procura da verdade, se veja películas na praça, se trabalhe o artesanato, se valorize os escritores e os poetas (…), se procure ver as coisas tal como são. Assim, a cultura, a que se deseja que a Capital Europeia da Cultura evoque, deixa de ser, como é tantas vezes no presente, meio de evasão e símbolo de decadência, para passar a mobilizar a inteligência e purificar o olhar. Eduardo Jorge Duque Prof. Universidade do Minho |