Arquivo: Edição de 24-10-2008
SECÇÃO: Região |
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Leituras e Mensagens...
O seu nome figura e destaca-se com mais proeminência, pelo menos duas vezes em onomásticos e entradas de títulos na “Revista de Guimarães”, tais como “Como eram cobertas as casas redondas da Citânia” (separata da Revista de Guimarães – 1946) e o “Monumento Funerário” da Citânia - Nova Interpretação, (Separata da Revista de Guimarães – 1948). Relativamente a este último título, se envolveu em polémica acesa com o não menos sábio, Coronel Mário Cardoso, também ele anteriormente director prestigiado da dita Sociedade. Chamamos a atenção para os articulados destes dois eminentes estudiosos, cada um a esgrimir a seu jeito e talento, as razões por que se o Monumento da Citânia chamado “Pedra Formosa” que constitui indubitavelmente uma das riquezas daquela estação arqueológica, deva ser considerado Monumento Funerário ou espaço comunitário destinado a funções meramente utilitárias ao serviço das famílias autóctones. A disputa interessantíssima de cavalheiros, polida e prenhe de elevação, pode ser consultada com importante proveito na citada “Revista de Guimarães”, nr. 56, 1946. Hoje, porém, enaltece-nos o facto de pôr em destaque as chamadas “Esculturas de Penselo” que o autor descreve nas circunstâncias e condições em que foram exumadas da cinza bolorenta do tempo. A tradição e a memória colectiva do ser humano sob ponto de vista religioso e sentimental não se compadecem com o desaparecimento dos símbolos esculpidos na pedra ou na madeira, por ignorância, por cupidez ou egoísmo de alguém que destrua o bom gosto e a excelência da arte; não se destrói o bom gosto que é eterno, implantado ao sabor platónico de uma “mimesis” impressa por Deus no intelecto humano. Estas considerações vem a propósito das obras escultóricas que são repositório do nosso património artístico descobertas em condições tão vergonhosas de abandono, que um furto salvador – se tal fosse necessário – teria o aplauso e a absolvição de toda a gente culta. É este o desabafo que o “salvador”, António de Azevedo, produziu ao descobrir o precioso achado das “Esculturas de Penselo”. E continua: - “ Estavam ciosamente guardadas no chão húmido e térreo da pequenina capela a que pertenceram, agora transformada em palheiro, onde as vimos pela primeira vez, quando a curiosidade nos espicaçou o desejo de observarmos o seu interior e interrogamos os caseiros da herdade cujo solar abandonado se transformou em sórdida habitação da gente humilde que hoje faz as terras que outrora, nos séculos XVI, XVII e XVIII, viram a prosperidade dos seus senhores. Hoje vislumbra-se apenas um quadro evocativo e desolador. Que tristeza! E agora, constatámos nós, não sendo difícil imaginarmos a desolação e o abandono em que as ditas esculturas se acharam, com as palhas fétidas e imundas de cortes de animais com telhados escalavrados a verter água por todos os lados. Escusamo-nos de descrever cada uma das seis imagens que, agora e a tempo se transportaram para o Museu Alberto Sampaio e com esmerado gosto se guardam na chamada “Sala dos Penselo”, três referentes eventualmente à escultura de um Bispo, outra provavelmente ao evangelista São Mateus e a terceira à figura de um Papa, na interpretação e leitura de António de Azevedo, sendo as outras três identificadas como conjunto escultórico da Sagrada Família, São José, Nossa Senhora e o Menino. Aqui, formulámos o ensejo de que valerá a pena fazer uma visita à dita sala do Museu Alberto Sampaio, onde se distingue tão maravilhoso espólio, o das “Esculturas de Penselo” . É de ficar repassado de fascínio e encantamento perante tal conjunto de estátuas esculpidas a gosto de alguém que, apesar do seu anonimato, as terá lavrado dentro de uma gramática estética a ultrapassar os meros saberes de um qualquer artesão vulgar. Pe. Armando 19/10/08 |