Nos caminhos da Páscoa
Chegámos ao ponto mais alto das celebrações da Páscoa com o chamado Tríduo Pascal e Páscoa da Ressurreição do Senhor. Para os cristãos é a ocasião de reviver e aprofundar o mistério central da sua fé. Todos os crentes reconhecem, por isso, a necessidade de recurso e meios de preparação condigna: a vivência quaresmal é, de facto, o sinal mais visível duma caminhada de expressão comunitária. Acreditar na Boa Nova, renascer, são palavras de ordem para sentir a Páscoa na vida. Os caminhos abertos pela fé são certamente aqueles que apresentam sinais de autenticidade. Todavia a Páscoa, no contexto cultural de muitos povos, independentemente das suas crenças religiosas, não passa despercebida a ninguém. Na sua essência etimológica, páscoa significa passagem, daí que o propósito inspirador do nosso quotidiano deveria consistir em fazer de cada momento uma vivência pascal ao ponto de atingir o cume apetecível de ficar numas páscoas. Mas, como isto não se consegue com meros sentimentalismos, há que fazer esforços para atingir algumas metas. E lá caímos nós na tentação de tantas corridas que se ficam na esfera das exterioridades e que não penetram no íntimo do nosso ser. Viagens, miniférias, aquisição de produtos, muitas vezes supérfluos, são algumas formas de sentir páscoa=passagem, cuja utilidade ficará, sempre, aquém do desejável. Tomar consciência de que, como homens, as mudanças verdadeiramente necessárias na vida partem prioritariamente do interior, é que é essencial. Frequentemente a comunicação social no seu papel de “olheiro” da vida e comportamentos de grupos e instituições levanta a questão da identidade, isto é, aferindo a fidelidade e conformidade ou não às tradições, cultura e valores caracterizadores da(s) unidade(s) em apreço, dá conta dos desvios e perigos que podem levar à perda ou emprobrecimento da especificidade histórica das mesmas. Logicamente se deduz, portanto, que a superação da apatia e mediocridade, a criação de condições para uma existência hino à vida e os meios para o ambiente de estabilidade sustentada de paz, tem a ver, fundamentalmente, com o esforço pessoal de cada um. A grande dificuldade no desenvolvimento desta dinâmica residirá na aversão do confronto da pessoa consigo própria. “Os cavalos” do carro dos vícios capitais, que cada um tem de controlar e dirigir, são milhentas vezes mais fortes, provocando desastres de toda a ordem, pelo uso insensato da liberdade. Quando se procurava páscoa “passagem” mais ampla, tornou-se a cratera do abismo e escravidão. Se, ao exercício intelectual e espiritual de inversão daquelas tendências más, vindas da fragilidade original, juntarmos os dons da Graça, vividos intensamente na Páscoa cristã, teremos encontrado o caminho seguro de passagem para uma vida nova ou transformada. Muito importante também é considerar que, nesta aventura, ninguém poderá caminhar sozinho. Jesus precisou de Simão de Cirene para vencer a dureza do caminho para a consumação do Seu mistério pascal. Ser cireneu, estar atento e disponível aos outros é também, sem dúvida, sinal evidente de páscoa. Lima de Carvalho
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