Arquivo: Edição de 13-10-2006
SECÇÃO: Informação Religiosa |
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A caridade, alma da missão 3. Na véspera da sua paixão, Jesus deixou como testamento aos discípulos, reunidos no Cenáculo para celebrar a Páscoa, o “mandamento novo do amor - mandatum novum”: “O que vos mando é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15,17). O amor fraterno que o Senhor pede a seus “amigos” brota do amor paterno de Deus. O apóstolo João observa: “Quem ama nasce de Deus e conhece a Deus” (1 Jo 4,7). Assim, para amar segundo Deus é preciso viver n’Ele e d’Ele: Deus é a primeira “casa” do homem e só quem n’Ele se demora arde com o fogo da divina caridade capaz de “incendiar” o mundo. Não é esta a missão da Igreja, em todos os tempos? Então, não é difícil compreender que a autêntica solicitude missionária, compromisso primário da Comunidade eclesial, está ligada à fidelidade ao amor divino, e isso vale para todos os cristãos, comunidades locais, Igrejas particulares e todo o povo de Deus. Graças à consciência desta missão comum, reforça-se a disponibilidade dos discípulos de Cristo em realizar obras de promoção humana e espiritual que, como escrevia o amado João Paulo II na Encíclica Redemptoris missio, “testemunham a alma de toda a actividade missionária: o amor que é e permanece o verdadeiro motor da missão, constituindo também o único critério pelo qual tudo deve ser feito ou deixado de fazer, mudado ou mantido. É o princípio que deve dirigir cada acção, e o fim para o qual se deve tender. Agindo na perspectiva da caridade ou inspirados pela caridade, nada é impróprio, e tudo é bom” (n. 60). Assim, ser missionários significa amar Deus com todo o nosso ser, até, se necessário, dar a vida por Ele. Quantos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, também nestes nossos tempos, Lhe renderam o supremo testemunho de amor com o martírio! Ser missionários significa inclinar-se, como o bom Samaritano, às necessidades de todos, especialmente dos mais pobres e carenciados, pois quem ama com o coração de Cristo não busca o próprio interesse, mas unicamente a glória do Pai e o bem do próximo. Aqui reside o segredo da fecundidade apostólica da acção missionária, que ultrapassa fronteiras e culturas, alcança os povos e se difunde até aos confins do mundo. 4. Queridos irmãos e irmãs, que o Dia Mundial das Missões seja uma útil ocasião para compreender sempre melhor que testemunhar o amor, alma da missão, é para todos. De facto, servir o Evangelho não deve ser considerado uma aventura solitária, mas um compromisso compartilhado por todas as comunidades. Ao lado daqueles que estão na linha da frente, nas fronteiras da evangelização – refiro-me, agradecido, aos missionários e missionárias – muitos outros, crianças, jovens e adultos, com a sua oração e cooperação, contribuem, através de várias formas, para a difusão do Reino de Deus na terra. Faço votos para que esta comparticipação aumente sempre, graças à colaboração de todos. Aproveito, com prazer, esta circunstância para manifestar a minha gratidão à Congregação para a Evangelização dos Povos e às Obras Missionárias Pontifícias [OO.MM.PP.], que coordenam, com dedicação, os esforços realizados em todo o mundo, em prol da acção daqueles que estão na linha da frente em situações missionárias. Que a Virgem Maria, que com sua presença junto à Cruz e sua oração no cenáculo colaborou activamente no início da missão eclesial, sustente a sua acção e ajude os fiéis em Cristo a serem sempre mais capazes de amar verdadeiramente, para que, num mundo espiritualmente sedento, se tornem fonte de água viva. Formulo estes votos do fundo do coração, enquanto envio a todos a minha Bênção. Vaticano, 29 de Abril de 2006 |